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Santos, a primeira

cidade do caminho

Por Cibele Mateus

 

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O primeiro passo da travessia de “por onde caminha o mar?” começou na cidade de Santos. Dentro do trajeto oficial, Santos é o destino final das milhares de sacas de café e outras mercadorias que escoavam pelos vagões da São Paulo Railway, vinda de diversos pontos do interior de São Paulo até o porto de Santos – A porta aberta para o mar.

A pesquisa histórica e iconográfica se deu a princípio por fontes da internet e visita a Fundação Arquivo e Memória de Santos, fundação que trabalha no gerenciamento dos arquivos públicos da Prefeitura de Santos e com memória documental e icnográfica da cidade. Acesse aqui o site da Fundação Arquivo e Memória de Santos e veja também como foi a visita nossa visita lá. http://www.fundasantos.org.br/page.php?203

 

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Acompanhe aqui a cronologia da história de Santos

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SOBRE A PESQUISA

 

Partindo do traçado original do caminho do mar e suas histórias oficiais, cartografia da cidade, sua geografia social, os ciclos econômicos, muitas perguntas nos perpassaram e foram a válvula propulsora para formulação da metodologia de pesquisa do projeto. O que a cidade de Santos tem para nos contar? Onde encontrar os vestígios do passado no presente? O que nos move nesta cidade? Onde e como encontrar as histórias não oficiais? Como esse caminho do mar percorre as pessoas de Santos? Que perguntas podemos fazer para alma dessa cidade?

 

Para tentar responder a estas perguntas, criamos “cinco critérios” que nortearam a pesquisa e criação pelas cidades de “por onde caminha o mar?”.

A partir do traçado original do caminho do mar, sobrepor o mapa atual na busca de encontrar os critérios a seguir:

1. Localidades próximas ao caminho do mar.

Quais são os bairros principais dentro desse recorte?

2. Pessoas nascidas nas cidades que compõem o trajeto.

Imigrantes, pessoas de ação, multidão/malha urbana, quilombolas, povos indígenas, pessoas de ação, outsiders.

3. Religiosidade.

4. Arquiteturas. 

5. Acaso/ DERIVA

O que está por vir? Pesquisa de campo.

 

DERIVA OU... COMO NÓS ENCONTRAMOS O PAQUETÁ

Cheiros... Café, tabaco e banana...

 

Os povos indígenas? Os negros escravizados? As mulheres? Amistosos?

Caminho pela cidade durante o dia. Cidade silenciosa... O que esconde? Só ouço os sons dos apitos dos navios. O trem de turismo histórico passa, uma mulher aponta as arquiteturas e narra os feitos ocorridos ali. Fala monótona, cheia de ruídos, quase sem sentido. Qual o sentido de tudo isso? Qual é o plano de uma cidade?

Casarões antigos, muitos abandonados. As pombas em tudo nos observam lá do alto. Fantasmas. Museu do café. Desenhos de negros carregando as sacas. Houve quilombo em Santos? Amigos dos brancos? Sentimento de estranheza...

 

Na parede de um casarão um lambe-lambe. 14 mil pessoas vivem nos cortiços de Santos, mais de 1 mil são mulheres acima dos 60 anos, 13 delas são Marias. Rua Amador Bueno, 351. Foi assim que conhecemos Paquetá e a Associação dos Cortiços do Centro de Santos. Caminhos para a-mar, este mar feminino que nos abraçou.

Uma criança é abusada e morta dentro dos cortiços. Tragédia, manifestação, cartazes pedindo por justiça, gritos, lágrima, revolta! Este foi o cenário do primeiro encontro com as mulheres da Padaria Comunitária e Associação dos Cortiços liderada pela guerreira Samara Faustino.

 

Santos. De um lado o luxuoso Gonzaga, do outro lado Paquetá – lugar escondido por aqueles que nos narram as “histórias oficiais”, a Santos não vista nos cartões postais.

“Queremos mostrar a Santos deste lado aqui, a Santos que ninguém quer ver”.

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SOBRE PAQUETÁ E A ASSOCIAÇÃO DOS CORTIÇOS DO CENTRO

 

Segundo o historiador Cadu de Catro, no documentário “Mudar sem mudar”, de Junior Castro e Fábio Oliveira, a história de Santos começa próxima ao bairro Paquetá – sec. XVI, onde o povoado se desenvolve em função da localização geográfica, uma área adequada para se construir um porto. A princípio o bairro de Paquetá foi ocupado por uma elite Santista que construíram grandes casarões. No final da década de 20, início da década de 30, o comércio e algumas empresas passam a se instalar no bairro que junto a movimentação do porto, acaba por expulsar essa elite do bairro passando então a se estabelecer ali uma classe média que se estabeleceu por algumas décadas. A crescente movimentação do porto trouxe uma movimentação de marinheiros pelo bairro e aumento da prostituição o que fez com que essa classe média aos poucos também deixasse o Paquetá. Esses grandes casarões que um dia pertenceram à burguesia, foram sendo ocupados e transformados em “residências multifamiliares” – cortiços.

 

Calcula-se que 14 mil pessoas vivem nos cortiços. As habitações são improvisadas, quartos com grande aglomeração de pessoas, falta de privacidade, ventilação e iluminação precárias, os moradores enfrentam diversos problemas de saúde como tuberculose, problemas respiratórios e doenças de pele, além da discriminação social.

 

A Associação doa Cortiços do Centro (ACC), foi criada em 1996 com objetivo de promover a melhor qualidade de vida para os moradores. Liderada pela presidente Samara Margareth Conceição Faustino, a ACC conquistou diversos projetos como Raízes Corticeiras, um ateliê com 50 mulheres que produzem uma linha de bijuterias coloridas de couro e chita, promovendo a geração de renda para muitas famílias, a Padaria Comunitária “Um só coração”, uma iniciativa composta por 10 mulheres que tem como parceria o Instituto Elos, no mesmo local da padaria funciona uma biblioteca comunitária e futuramente será instalada uma creche 24 horas. A Associação também recebe o projeto de Turismo Social, realizado em parceria do SESC.

 

Em 2007, por meio de muita luta e reivindicações da ACC, a Secretaria do Patrimônio da União doou um terreno à Associação para abrigar o projeto de habitação Vanguarda 1e Vanguarda 2. O projeto foi incluso no programa Crédito Solidário, da Caixa Econômica Social.

 

As obras começaram em 2009 com o formato de mutirões realizados pelos próprios moradores cadastrados. O projeto pioneiro no Brasil recebeu no mesmo ano o prêmio Caixa Melhores Práticas em Gestão Local. Em 2010 concorreu ao Prêmio UM-Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos) ficando entre os 50 melhores projetos de melhorias de condições de vida para as populações.

O projeto Vanguarda, é a maior conquista da luta dos moradores dos cortiços, ele pretende atender 113 famílias no Vanguarda 1 e 68 famílias no Vanguarda 2, beneficiando 600 pessoas.

 

Ocorreram muitas dificuldades no meio do caminho, “muitas emoções” como fala o conhecido bordão de Samara. A obra está parada à quatro anos esperando os reajustes de verba por parte do Governo Federal, mas a comunidade continua lutando pelo cumprimento de seus direitos à moradia.

 

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VESTÍGIOS POÉTICOS - SANTOS

Notas de caderno sobre a pesquisa na Fundação Arquivo e Memória de Santos. Cibele Mateus.

 

Santos. Café. Calçada do Lorena. São Vicente – primeira cidade do Brasil. Mulas, carroças, corrida de automóveis, estrada de ferro, São Paulo – passagem. Santos. Cidade Planejada. Saturnino de Brito. Esgoto. Bonde turístico até os anos 70. Bairros importantes. Centro, Paquetá, Valongo (estação junto com a estrada de ferro). Dona Ana Costa. Para chegar a praia... Balneário. Bar do Gonzaga. Neruda anos 20 e 30 passou por Santos. “cenas brasileiras”. Mogli. O homem que queria ser rei. Engenho dos Erasmos. Presidente da Câmara negro. Anos 20. Anarquistas. Primeira guerra. Italianos. DOPS. Teatro: Pagu, Plínio Marcos. Patrícia Galvão, incentivadora de Plínio Marcos, do jornal da tribuna–presa na cadeia de Santos. Cacilda Becker. Golpe de 64 – Navio prisão. Pitangui. A organização do porto era feita na pancada pelos valentões, a polícia clandestina. Macucu - Vila operária Sindicato dos estivadores. Porto vermelho. Livro - moscolzinha brasileira. Família das cabras. Nego (samba de gafieira). Marquesa de Santos. Primeira miss Brasil era de Santos. Tobias Aguiar (corno). Morgado Mateus- proibido morar na selva, homens piores que selvagens. Engenho dos Erasmos – Cemitério indígena – bairro Jabaquara- Quilombo. Quintino Lacerda – Presidente Lacerda – todos os brancos renunciam. Caifazes – caixeiros viajantes. Santos garrafão. Roda de samba. Catraia. Ver o porto.

 

Notas de caderno sobre a cronologia da história de Santos:

“Primeira cidade”

“Um maremoto destrói parte de São Vicente.”

 

Poéticas das águas. Qualidades de movimento das diferentes águas que percorrem o caminho do mar... Ações de maremoto, falar como um maremoto, cantar um maremoto, dançar um maremoto...

 

“A própria imagem de Santa Catarina foi arrancada da capela e lançada às águas do Enguaguaçu, onde permaneceu perdida por 90 anos, até ser resgatada por pescadores”.

 

Religiosidade de Santos

Matéria da água

Pescadores - peixes

“Nossa Senhora do Monte Serrat cresceu tanto que ela veio a se tornar a padroeira oficial de Santos”.

Desabamentos do Monte Serrat.

Corpo em desabamento, fala em desabamento – Intenções.

Andar com o corpo desabando

As lágrimas que escorrem pelo rosto, outras formas de desabamento.

“fuga das doenças infecciosas que o clima e o terreno alagadiço do litoral faziam proliferar”

 

Qualidade de água nos pés. Andar como se pisa em terreno alagadiço.

 

“Para completar, uma epidemia de bexiga mata um terço da população e a calamidade é tanta que o Caminho do Mar é fechado e interrompido a ligação com São Paulo.”

Epidemia de bexiga. Uma guerra de bexiga d´água. Epidemia de alegria.

“Nos primeiros tempos, a comunicação com o Planalto se fazia por canoas”.

Canoas, catraias, navios... Transportes pelas águas.

“Um grande aterro na região de Cubatão liga definitivamente Santos e a Ilha de São Vicente ao continente”.

“Acredita-se que o revolvimento do lodo putrefato acumulado na antiga "praia do Consulado" e também no "porto do Bispo", locais onde se atiravam os resíduos da cidade, tenha sido o estopim da epidemia de peste negra (febre amarela) que assolou Santos, uma das maiores e mais violentas das que atacaram a cidade”.

 

Fantasmas de Santos, lodo, putrefato. O que a cidade esconde por trás do cartão postal? Onde estão os vestígios dessa putrefação? Por de baixo do mar... Lodo.

“um grande bloco de terra se desprende do Monte Serrat e cai sobre os fundos da Santa Casa, o pavilhão de Isolamento e um quarteirão de casas construídas junto ao seu sopé.”

Elemento da terra. Bloco de terra. Sacas de café...Sacas de terra

 

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SOBRE A OFICINA HISTÓRA DE NÓS

A oficina História de Nós foi realizada nos dias 25 e 26 de março e 01 e 02 de abril de 2017 na Padaria Comunitária - Associação dos Cortiços do Centro, localizada no bairro Paquetá-Santos. Atendemos um público com idade de 4 a 72 anos, onde a maioria eram mulheres, moradoras dos cortiços, com mais de 50 anos e que vieram acompanhadas por suas filhas (os) adolescentes, netas (os) e duas delas acompanhadas dos maridos.

Como metodologia para realização da oficina utilizamos o procedimento de Mapa mental, apresentado pela Panamérica Filmes, entrevistas, jogos teatrais baseadas nas técnicas do Teatro do Oprimido e apresentação de vídeos, fotos e roda de conversa sobre o que é intervenção artística.

 

Chegamos ao espaço da ACC pela manhã, tomamos o delicioso café com broa de milho feito pelas mulheres da Padaria Comunitária, a expectativa era grande de saber quem viria para a oficina. Arrumamos o espaço no andar de cima da padaria, onde fica a biblioteca comunitária. Materiais para construção do mapa mental separados, pandeiro, tambor mar separados. Não sabemos ainda o que vamos utilizar. Aguardemos.

 

Samara sai com sua doblô buscando as pessoas “foi preciso um ônibus passar por cima do meu marido que era estivador para eu ter esse carro aqui”, diz Samara. Aos poucos os participantes vão aparecendo e subindo. A maioria é mulher com mais de 50 anos, elas sobem devagar, cansadas, um cansaço que percebemos que não é somente físico, umas carregam suas crianças, outras suas filhas adolescentes. Estão com um olhar de desconfiança, mas ao mesmo tempo estão ali por confiança na liderança da Samara.

Iniciamos com uma roda nos apresentando e apresentando a proposta do projeto e oficina. “Escolhemos desenvolver a oficina do projeto no Paquetá por uma questão de identificação. Também viemos das periferias do ABC e Santo Amaro e queremos revelar por meio deste projeto a Santos do lado de cá, a Santos que não nos mostraram no centro de memória, a Santos que não está no cartão postal.” Neste momento nos olhamos diferente, olhar de cumplicidade, de empatia, já estamos respirando na mesma vibração, podemos começar.

 

Na roda de apresentação pedimos que cada um falasse o nome e respondessem a pergunta: Que qualidade de água você é hoje? Mar, rio, cachoeira, água cristalina, chuva, garoa... Foram muitas as respostas, respostas ditas de forma poética, fechando os olhos, sorrindo, sentindo a água percorrer o corpo.

 

“Mar. Água do mar” (Joselídia)

“Agua corrente” (Jô)

“Rio” (Nay)

“Cachoeira” (Marilene)

“Lago” (Carmem)

“Água de rio doce” (Antônio)

“Rio” (Neusa)

“Água pura, natural” (Rosa)

“Cachoeira” (Maria de Loudes)

 

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Fizemos uma roda, nos olhamos e cantamos nos balançando com a delicadeza de uma onda do mar. “Vou já vou, já vou te buscar, seguindo os caminhos das ondas do mar”.

O passo seguinte foi à introdução do mapa mental, que consiste em uma metodologia de geografia social, onde os participantes criam um traçado cartográfico de seu local de moradia a partir das memórias de indicadores afetivos. Desenhamos dois pontos no mapa como ponto de partida, o porto e a localidade a Padaria Comunitária. Conforme as pessoas foram desenhando os trajetos das ruas do bairro, onde estão localizadas suas moradias, fomos fazendo algumas perguntas que impulsionavam as afetividades e desenho do mapa. Quais lugares de acolhimento na cidade? Onde cuidam da saúde? Onde se morre? Onde passeiam? Onde estudam? Onde se sentem acolhidos? Onde se sentem excluídos? E outras.

 

Conforme o desenho foi sendo realizado, as perguntas norteadoras forma nos trazendo informações importantes sobre a geografia social do bairro Paquetá. As pessoas relataram a discriminação que sofrem quando vão à praia e descreveram o bairro do Gonzaga como um bairro oposto ao Paquetá. Ao mesmo tempo muitas falaram que se sentem seguras no bairro, pois ali todos se conhecem e tem o mesmo objetivo de lutar por melhores condições de vida.

 

No terceiro momento deste primeiro dia de oficina, realizamos entrevistas com os participantes para recolhimento de depoimentos sobre suas trajetórias de vida relacionadas à cidade. Todo o material tanto do mapa mental como o de depoimentos foram utilizados para criação das intervenções no Paquetá e como material de criação cênica do Work in progress “Cinco ou seis passos para o mar”.

 

Pela construção do mapa mental descobrimos as catraias, meio de transporte que atravessa as pessoas do Paquetá ao Guarujá, onde fomos conhecer na manhã do dia 26 de março. “Catraias, mulheres ancoradas”. Uma intervenção foi realizada no local onde as catraias ficam ancoradas, com a ajuda de um funcionário, Patrícia foi falando pelo megafone o nome que os donos das catraias batizaram suas embarcações. Atravessando aquele braço de mar podemos ver o porto e seus imponentes navios e mercadorias, as entranhas do porto de Santos.

 

No segundo dia da oficina história de nós, iniciamos com uma nova roda de apresentação, pois tinham novos integrantes. Realizamos o jogo “Nome com movimento”, onde cada um falava o nome e realizava uma ação que resumisse o “Como você está no dia de hoje?”.

Num segundo momento fizemos uma explanação sobre o que é intervenção artística mostrando levando referencias de diferentes formas de intervir no espaço urbano com vídeos, fotos e realizando bate papo sobre as obras apresentadas.

 

No final da conversa perguntamos ao grupo:

 

“Se fossem fazer uma intervenção hoje, sobre o que gostariam de falar?”.

 

A resposta veio dura e precisa.

 

“Gostaríamos de retratar a discriminação que o Paquetá sofre em relação aos bairros nobres da cidade – O Gonzaga”.

 

Neste momento, dentro da constatação de uma situação de opressão, passamos a introduzir Jogos teatrais baseados nas técnicas do teatro do oprimido.

O teatro do Oprimido criado pelo dramaturgo, diretor e teórico Augusto Boal, nos anos 70, tem por objetivo o conhecimento da realidade para transformá-la, sendo essa transformação realizada por meio da ação, onde o sujeito atuante ao transformar a ação dramática apresentada, se torna o protagonista e transformador da ação dramática.

Para Boal, a ideia central é que o espectador ensaie a sua própria revolução sem delegar papéis aos personagens, desta forma conscientizando-se da sua autonomia diante dos fatos cotidianos, indo em direção a sua real liberdade de ação, sendo todos espect-atores.

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"Creio que o teatro deve trazer felicidade, deve ajudar-nos a conhecermos a nós mesmos e ao nosso tempo. O nosso desejo é o de melhor conhecer o mundo que habitamos, para que possamos transformá-lo da melhor maneira. O teatro é uma forma de conhecimento e desse ser também um meio de transformar a sociedade. Pode nos ajudar a construir o futuro, em vez de mansamente esperarmos por ele". (BOAL, 2006, p.11)

 

Levamos todos os participantes para o quintal e propusemos que caminhassem pelo espaço com o toque do pandeiro.

 

“Caminhem pelo espaço sentindo o ritmo estabelecido, quando ouvirem a palavra PAQUETÁ, caminhem como caminham as pessoas do Paquetá e quando ouvirem GONZAGA caminhem como as pessoas do Gonzaga”.

 

No meio do jogo também eram colocados nome de lugares descritos no mapa mental, onde os participantes deveriam se comportar como se comportariam as pessoas do Paquetá e Gonzaga nestes lugares falados.

Quando foi falada a palavra UPA (Unidade de pronto atendimento), os participantes realizaram uma fila e agiram como se estivessem na UPA, cansados da espera, em pé com criança de colo, passando mal etc.

 

“Não tem preferencia pra quem está com criança no colo não!”. (Neusa).

 

Os participantes da oficina foram passando por diversos lugares colocados por eles no mapa mental: UPA, Show de bola (bar onde os adultos se divertem), a praia. Agiam como pessoas do Paquetá e do Gonzaga, expressando momentos de conflito com policiais, preconceitos, revelando a visão que possuem sobre a elite de Santos e também elaborando sua maneira de ser Paquetá. Em todas as situações se opressão revelada, os participantes se colocavam reivindicando seus direitos, com falas como “A praia é nossa também, é nosso direito!”.

 

“Aqui é uma cena séria, são coisas que acontecem na nossa pele, na nossa vida” (Samara).

 

Para finalizar esse dia de oficina, separamos os participantes em dois grupos, onde um representaria o Paquetá e outro representaria o Gonzaga e propomos que cada grupo criasse um grito de guerra. Sim! A guerra foi instaurada.

 

“Ele entendeu. Sabe o que ele falou? (apontando para uma criança participante da oficina). Nós estamos indo pra guerra né”. (Samara)

 

Começa a apresentação dos grupos para os gritos de guerra:

 

“Essa é a família tradicional do Gonzaga, fundadora da cidade de Santos” (Cibele apresentando os Gonzagas).

 

(A turma do Paquetá vaia).

 

“Os Gonzaga estão reclamando do barulho, estão se sentindo ofendidos” (Cibele).

“Ofendido e magoados somos nós, a muito tempo pisados! ” (Samara)

Tiramos cara e coroa, quem começa é o Paquetá.

 

PAQUETÁ – GRITO DE GUERRA

Tira esse povo que pisa no ovo

Aqui é Paquetá

Pra você não dá!

GONZAGA – GRITO DE GUERRA

Somos o Gonzaga, somos o Gonzaga

Gonzaga, Gonzagão

Não pisa no meu chão

Seus sem educação

 

Terminamos o dia numa grande roda, com muitas falas de satisfação e fortalecimento. Pedimos para Joaquina Lima (Jô), que trabalha na padaria comunitária e que em entrevista relatou que é do Maranhão, onde brincava de bumba meu boi e que sente muita saudade de sua terra, cantar umas toadas de boi para fazermos aquela roda de despedida, ou melhor, até breve.

 

Adeus, eu vou partir.

Se Deus quiser querida

Ainda volto aqui

Te lembra da ingratidão

Por isso meu coração chorou

Olha essa toada

É recordação e corda do nosso amor

(toada de boi apresentada por Jô e cantada no work in progress)

 

Inserir fotos do primeiro fase da oficina

Inserir vídeo da oficina de santos:

 

No segundo fim de semana de oficina, nos dedicamos a planejar e realizar a intervenção no bairro do Paquetá.

 

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Sobre a intervenção AÇÃO GONZAGA x PAQUETÁ

 

Conversamos com os participantes e escolhemos dois momentos realizados durante os jogos para elaborar a intervenção. Os momentos escolhidos foram a “Fila da Upa” e os conflitos na “praia do Gonzaga e Paquetá”. Essas duas cenas compuseram a intervenção Ação Gonzaga x Paquetá, que foi realizada nas ruas do entorno da ACC.

Durante o momento do jogo e também em conversas pós-oficina, algumas participantes relataram um acontecimento na UPA onde uma pessoa do Gonzaga foi à UPA e quis cortar a fila, pois era amiga do médico. Essa pessoa branca, amiga do médico e moradora do Gonzaga passa a reivindicar seus privilégios e quer ser atendida antes das pessoas, criando uma situação de conflito com as pessoas do Paquetá.

Esse acontecimento serviu de mote para a intervenção realizada no muro do cemitério que fica em frente à padaria comunitária da ACC. É o cemitério mais tradicional da Cidade, em funcionamento desde 1853, onde estão enterradas algumas figuras ilustres como Vicente de Carvalho, Benedicto Calixto, Martins Fontes, Quintino de Lacerda, Esmeraldo Tarquinio e Mário Covas.

 

“O cemitério mais chique da cidade fica no Paquetá, mas os moradores do Paquetá não são enterrados aqui”.

 

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Associação Cortiços do Centro Santos Raízes Corticeiras

Apoio:

FILA DO SUS

 

Escrevemos no muro do portão do cemitério “SUS”, formamos uma fila com os participantes da oficina. Gradsnay Conceição Faustino (Nay) representou a mulher do Gonzaga. Ela chega de peruca loira e muitas bijuterias, anda como que se “pisasse na casca de ovo”. Pergunta pelo médico seu amigo, diz que tem horário marcado com ele, assim começa o conflito onde os moradores do Paquetá expulsam a “madame do Gonzaga” do local.

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PRAIA GONZAGA X PAQUETÁ

 

Os participantes trouxeram canga, guarda chuva, alguns vieram de maiô, de biquíni, guarda-sol, tudo para criarmos uma praia na rua. De um lado da calçada era a praia do Paquetá, do outro lado, a praia do Gonzaga.

Cada grupo na sua praia, agindo como Paquetá e Gonzaga. Os Paquetás cantavam alto, riam, dançavam, se divertiam. Os Gonzagas andavam com seus cachorros, faziam ginásticas... Um grupo esbarrar no outro, reclama o direito à praia. Pronto, vai começar a guerra!

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Cada grupo canta seu grito de guerra para o outro e... GUERRA DE BEXIGA!!!

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